Artista e cientista multifacetado, Fernando Lanhas acaba por desenvolver a sua atividade em áreas tão aparentemente diversas como a arquitetura, a pintura, o design, a arqueologia, a paleontologia, a astronomia ou a etnologia, caracterizando-se em todas elas pela singularidade de abordagens e metodologias. E de caminhos de vida. Assim, a serra de Valongo será um dos lugares e um dos caminhos de vida e de obra de Lanhas. O seu pensamento, sedimentado na serra – entre a floresta e a planície – é o pensamento de uma aproximação à natureza-mãe que ensaia a consciência da evolução da Terra e da Vida. Homem de mapas e de sonhos, Lanhas é, fundamentalmente, perguntador, provocador e desconcertante. Mais tarde, Lanhas suscitará uma lição de síntese que apresentou em “O Elogio da Arte”, aquando do seu doutoramento honoris causa, em 2005, dando-nos a ver uma obra e um obreiro. O obreiro que abriu o caminho verdadeiramente revolucionário da abstração geométrica em Portugal. Também uma obra onde o seu modo de pensar as coisas levavam-lhe a construir na incerteza a dúvida transportada pela pergunta e pela interpelação. Uma obra que vai muito para além do obreiro.
Síntese biográfica:
Doutor da Universidade de Nice Sophia-Antipolis, França (1990). Professor Emérito da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Delegado da ANBA, Academia Nacional de Belas Artes na Região Norte (desde 2022). Académico da ANBA (desde 2017). Investigador do IdRA, Institut de Recerca de l’Aigua da Universitat de Barcelona, do i2ADS, Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade da Universidade do Porto, e do CIEBA, Centro de Investigação em Belas Artes da Universidade de Lisboa. Coordenador de vários Projectos, nomeadamente: BCIP, Conceptual Bases of Research in Painting, e ARTplus, Art, Research and Teaching into the Future. Últimas publicações: A Pintura É Uma Lição, Sciencia Potentia Est (coord), co-edição i2ADS/Edições Afrontamento, Porto, 2022; Nadir, A Arte em Diáspora (coord), Edições Afrontamento, Porto, Fundação Nadir Afonso, Chaves, 2022; Nadir, E Tudo (coord), Edições Afrontamento, Porto, 2023.
Entendemos a pintura de Fernando Lanhas enquanto processo de estabilização e fixação do devir da inscrição. Entre o desenho enquanto rasto imediato da inscrição e a pintura enquanto sedimentação da forma inscrita na superfície há um jogo diferencial com o tempo que remete para consciências da arqueologia e da geologia, num processo de curso temporal que simplifica as formas numa aparente geometria.
Síntese biográfica:
Professor Auxiliar da Área de Ciências da Arte e do Património na FBAUL onde se doutorou e Ciências da Arte Investigador Integrado CIEBA. Criação do Mestrado de Crítica, Curadoria e Teorias da Arte (2014). Membro da Comissão Científica do Doutoramento em Arte Performativas e da Imagem em Movimento (Ul e IPL). Coordenou a investigação do catálogo raisonné de António Dacosta. Criação e coordenação geral da Revista Convocarte (http://convocarte.belasartes.ulisboa.pt/). Tem publicado nacional e internacionalmente, sobretudo em torno da arte moderna portuguesa e da história e cultura da imagem. Fernando Paulo Leitão Simões Rosa Dias (961A-6ED3-B0EE) | CIÊNCIAVITAE (cienciavitae.pt) Repositório da Universidade de Lisboa: Pesquisar (ul.pt)
Num universo de interesses alargado, em que a abstração pictórica parece ter sido a mais significante atividade de Fernando Lanhas, podem descobrir-se mais de 180 projetos de arquitetura no arquivo da Fundação Marques da Silva. A sua prolífica produção é, sem dúvida, radicada nessa interdisciplinaridade em que corpo humano se torna geometria e a geometria se converte em arquitetura. Do seu ‘Refúgio na Montanha’, aos trabalhos desenvolvidos com Fernando Távora e outros arquitetos-artistas, num turbulento século XX, procura-se um novo enquadramento para este zeitgeist da arte na construção.
Síntese biográfica:
Arquiteto pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, fundou o atelier CH.A (CHoupina.Arquitectos) em 2010, ano em que colabora com a Escola Superior de Artes e Design. É responsável por intervenções no Palácio de Carlos V, em Granada, e no Pavilhão Sverre Fehn, durante a Visita Oficial da Presidência da República à Noruega. Acompanhou a construção do Pavilhão Álvaro Siza, na Feira Internacional do Mobiliário da China, com quem tem desenvolvido vários projetos culturais, em parceria com a Aedes Berlin, o Vitra Design Museum e a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento. Enquanto curador, comissariou exposições no Museu de Serralves, no Museu Nadir Afonso, no Espai Alfaro, na Fundação Tchoban ou na Fundação Marques da Silva, entre outros, produzindo múltiplas publicações nafronteira da arquitectura, arte e filosofia. É editor da A As Architecture Network, júri de prémios internacionais e palestrante convidado por diversas instituições e eventos, tais como: MArch Valência – Universidade Europeia, Bauhaus100, International Architecture & Design Forum, etc
Quando se fala em Fernando Lanhas, o seu nome é quase sempre associado ao seu grau de licenciado em Arquitetura, passando para segundo plano a verdadeira costela de naturalista. Muitas vezes me perguntei se estaria perante um naturalista com vocação para a arquitetura, ou perante um arquiteto com vontade de ser naturalista. Embora sendo dois “ofícios” tão distintos, foi possível perceber que em Fernando Lanhas os mesmos várias vezes se cruzavam e complementavam de forma harmoniosa. A natureza, mais do que um hobby ou até paixão, despertaram em Fernando Lanhas uma inquietude contagiante na procura de respostas para os múltiplos problemas com que se ia deparando, fossem eles de paleontologia (os fósseis), de sedimentologia (a areia das praias), de astronomia (os meteoritos), ou mesmo de botânica (o estudo das heras).
Síntese biográfica:
António José Guerner Dias nasceu em 1964 no concelho de Vila Nova de Gaia – Portugal. Licenciou-se em Geologia em 1987, tendo concluído o seu doutoramento em 2005, na área científica da Geologia, com o trabalho: “Reavaliação do potencial petrolífero do On-shore da Bacia Lusitaniana “. É professor auxiliar do Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, tendo sido diretor do mesmo departamento entre Junho de 2014 e Junho de 2018. Orientou mais de noventa teses de mestrado e seis de doutoramento, e publicou mais de setenta artigos em revistas indexadas em temáticas geológicas e ambientais, com destaque para a gestão de recursos naturais. É membro do Conselho Executivo do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto, sendo curador das coleções de Mineralogia e de Paleontologia.
Lanhas será uma das mais ilustres figuras com quem me cruzei. Homem de aparência sóbria, vestido a rigor, com um olhar intenso, mas de trato humilde. Estudei o seu percurso a partir da pintura, embora soubesse que lhe chamavam de Sr. Arquiteto. Encontrei mais tarde o seu nome em exposições de espeleologia (sobretudo trilobites), e de outros eventos associados a arqueologia e astronomia, entre outras coisas. Eram tantas as associações que encontrava sobre ele, que Lanhas mais parecia uma constelação de pessoas. Por fim, deparei-me com a sua associação a Valongo (local onde nasci e vivo) e ao estudo que desenvolveu através e no território das serras do Anticlinal, e, percebi que Lanhas e Valongo estão umbilicalmente ligados, embora em gestos aparentemente invisíveis. Lanhas atravessou Valongo de forma tão profunda que marcou a história do território, apesar de ser aqui praticamente desconhecido, ao mesmo tempo que desenvolveu um dos mais extraordinários percursos na cultura nacional. Assim, como as imensas explorações mineiras que rasgam a paisagem local, da passagem de Lanhas por Valongo só se conseguem ver algumas pequenas aberturas aparentemente desconexas, sendo agora oportunidade de a mapear como extensa rede de saberes e de ações interligadas, com impactos tanto no território local, como na cultura nacional e internacional.
Síntese biográfica:
Nasceu em Valongo, 1977. Doutorado em Arte e Design, com especialização em Pintura. Mestre em Pintura e Licenciado em Artes Plásticas – Pintura, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP). É professor no Departamento de Artes Plásticas, na FBAUP. Diretor da Licenciatura em Artes Plásticas. Investigador integrado do Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade. Artista plástico. Orador e autor de diversas publicações de âmbito artístico e académico, em Portugal e no estrangeiro. Membro da organização do International Congress on Contemporary European Painting, e de diversos eventos académicos e científicos. Coordenador local do Projeto Arts & Crafts Aujourd’hui (Erasmus+), e Investigador Responsável do projeto GroundLAB – Arqueologia e recondução tecnológica (i2ADS). Integrou equipas de vários projetos, destacando-se o Projeto Bases Conceptuais da Investigação em Pintura e do Soil Health Surrounding. Participou em exposições em países como Portugal, Espanha, Estados Unidos, Bélgica, Alemanha, Japão, Brasil, entre outros, e recebeu diversos prémios no campo das artes.