Localização: A designar
Materiais e medidas: Spray acrílico e marcador sobre ardósia ; Dimensões variáveis
Mesmo nos confins da memória, uma imagem quebrada, uma imagem rasurada representa ainda uma figura! Uma identidade fragmentada, uma história, um significado que, apesar do dano, do corte ou da degenerescência, se afigura – um horizonte de sentido. Nas torções e obsolescências que corrompem a complexa, mas frágil timeline de arquivos do nosso armazém mnemónico, muitas vezes o erro transforma-se em acidente da memória! Em algo que não pode ser dissociado das imagens que modifica ou representa, em parte ativa das figuras e sentidos que corrói – uma mistura inseparável entre aquilo que se esquece, aquilo que se oblitera e aquilo que se transforma pelo desejo criativo de voltar a lembrar. Memory-Blindness – procura entender a força destrutiva e criativa dessa ontologia na identidade de uma terra e de um lugar como o de um povoado da cidade de Valongo. Um mundo imagético repleto de zonas cinzentas, zonas de escrita e apagamento de uma história ou estórias sobrepostas e sobreimpressas em que o processo de rememoração em palimpsesto não cessa de escrever e acumular continuamente sobre si próprio num gesto de criação e inevitável apagamento: – natural, quando falamos na sucessão de camadas que compõem a pedra negra de Ardósia; – social/individual, no caso da memória individual ou coletiva de uma comunidade; e – cultural, no caso da perda ou degradação dos seus objetos mnemónicos – memorabilia. Na obra, a imagem de um povo, de uma identidade local encontram-se mergulhadas nesse sem-fim de processos contingentes e aleatórios que envolvem a construção de uma figura. De um rosto identitário incompleto, ‘errante’ e descaracterizado de uma história ou estória(s) do lugar, mas que se veicula a si pelo – sentimento de uma estranheza familiar, de uma estranheza iconográfica e patrimonial. Um rosto acidental, acidentado, exposto a essas marcas do tempo, dos lapsos e degenerescências da memória que trazem em si sincopadas as transcorrências de uma herança material e imaterial em perpétua transformação. Uma herança vivida, mas, também, uma herança deixada de metamorfoses e preenchimentos mútuos. Uma história daquilo que se constrói ao mesmo tempo que se apaga, daquilo que se sugere presente enquanto removido e que se desmantela enquanto se reconstrói ao longo de um passado, presente e futuro em que o ser e o não-ser das coisas, da herança que recebemos e construímos se intersectam num processo patológico e lacunar interminável. Imagens cambiantes!
“o apagamento está sempre a escrever sobre a memória e esta última, inevitavelmente, a fazer-se de ‘apagamentos’ num circuito uno – indivisível.”