Localização: CIAMR – Centro de Interpretação Ambiental e Mineração Romana
Rua Santa Helena
4440-452 VALONGO
41.185115, -8.497069
Materiais e medidas: Spray acrílico e marcador sobre ardósia ; 240x180cm
Quando caminhamos – quando colocamos um pé à frente do outro – raramente nos lembramos que são estes que mapeiam, percorrem e inscrevem o nosso corpo no espaço, no território. Esquecemo-nos, muitas vezes, que são estes que veem. Ou, melhor dizendo, que são estes que experimentam em primeiro plano todas essas camadas narratológicas e geológicas de uma história que se desenrola diante de nós, uma história que é transformada e reconstruída pela nossa passagem, tanto na sua forma de paisagem, como no seu sentido de lugar! Construir uma – Arqueologia de um percurso – surge nessa linha, nessa perspetiva de diálogo com o espaço in situ. Surge dessa relação dialógica e quase-umbilical entre o olho que perceciona a paisagem e um corpo que a mapeia, dessa vontade de explorar – num sentido quase cartográfico/topográfico do termo – um universo paisagístico de marcas, estratos e impressões poéticas deixadas e captadas pelo gesto de percorrer um território (Parque Paleozóico de Valongo). Em termos conceptuais, toda a obra confronta-nos com uma experiência transformada e transformadora do lugar. Um percurso rigorosamente esquematizado feito de passos, pausas e gestos ritualizados, onde o corpo se envolve numa poética do espaço! Uma poética composta por todo um conjunto de marcas e vestígios que retratam os diversos tempos e trajetos realizados no parque: – a experiência da viagem; – o processo de registo e cartografia do lugar; – o mapeamento fotográfico e multissensorial da paisagem. Elementos de natureza diacrónica que confluem numa série de reencenações gráficas geradas em diálogo com a superfície texturizada da ardósia. Tesselas de pedra negra transformadas em documento de registo de um mundo de naturezas-aproximadas, de um mundo de apontamentos vagos e dispersos de vegetação caída sobre o solo, mas, fundamentalmente, de matéria pisoteada cujas marcas captadas evocam através de imagens ficcionais do espaço não só a sensação do lugar, os tempos e as distâncias percorridas pela artista, mas verdadeiras psicogeografias. Percursos de uma poesia geográfica em que a elementaridade do solo é mostrada como invadindo a fabricação da obra, conectando o plano da visão com o plano do chão – o plano dos pés.