“Quatro à mesa” é uma reimaginação sensível e crítica da vida mineira, que evoca uma nostalgia pelo passado num encontro com a comunidade valonguense. Neste cenário pictórico, a figura do mineiro personifica o compromisso entre memória, história, indivíduo e território, enquanto agente fundamental no desenvolvimento cultural, económico e social. Motivada conceptualmente por testemunhos de antigos mineiros e visualmente enriquecida por descrições documentais e artefactos históricos do Museu da Lousa de Valongo, a obra transcende o propósito documental para se tornar uma sensibilização face ao absurdo da precariedade laboral. Apesar de evidenciar um impacto pejorativo da indústria mineira no quotidiano doméstico, não se trata apenas de relembrar uma memória dolorosa partilhada por muitas famílias. Procura-se antes homenagear o sacrifício desses indivíduos, tomando-os como exemplo de reflexão e impulso contínuo na luta contra a precariedade nas condições de vida e trabalho. Esta espada de dois gumes – tanto valoriza, como insta à vigilância -, mais do que uma fiel encenação de um cenário doméstico mineiro, sugere, ficcionalizando e colocando em suspenso, o que seria um momento “à mesa”. As três figuras de “Quatro à mesa” espelham o desdobramento da memória através do ato de identificação e do recontar, culminando num quarto sujeito que herda e perpetua a mensagem – o espetador.
Localização: A designar